quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Amores vãos

– Só você mesmo pra fazer isso por mim.
– O que eu não faço por você?
– Oun... Te amo.
– Ama nada. Eu que amo.
– Nem. Eu amo mais.
– Mas eu amo de um jeito diferente.
– Que jeito?
– De verdade.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Drama

E depois, o silêncio.

Sem explicação, sem aviso prévio, sem uma queixa, você deixou de falar comigo. Sem nenhum motivo – pelo menos para mim.

Primeiro, veio o susto. A certeza que era um engano: É paranoia. Hoje não, mas amanhã ela fala. Esperança. Sempre a última a morrer.

Depois, a esperança tornou-se ansiedade. E por fim angústia. Um dia, dois, três. Uma semana inteira sem uma palavra sua, uma mensagem, um emoticon.

A comida perdeu o sabor. Da bebida, só o efeito do álcool; a demora para dormir e o despertar na madrugada, fazendo a mim as mesmas perguntas que já lhe fiz. Por quê? O que eu fiz? Quando? De você, só o silêncio.

Os livros amigos à cabeceira da cama me ajudando a distrair a angústia e adormecer por mais umas horas, enquanto o sol nasce lá fora. Porque aqui dentro seu silêncio e a escuridão se confundem.

Passo os dias como um cachorro esperando o dono que não vem mais. De orelha em pé, cada toque, cada mensagem que chega pode ser sua, me dizendo: Deixe de paranoia! Mas, como aquele cachorro, sempre volto a me enrolar no meu canto. Não era o dono.

E é assim que temos vivido esses dias. Eu e essa esperança teimosa, que insiste em não morrer.

Sempre aguardando o próximo toque, a próxima mensagem que quebre o seu silêncio. Talvez até sua voz censurando o meu drama:

– Deixe de paranoia! Ai ai ai...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A terceira escravidão

Primeiro eles privatizaram o chão. Pegaram a terra e as árvores e as águas e disseram que eram deles. E a gente passou a comprar o que antes era Natureza: as frutas, a água, a carne. E o próprio chão. Quem não tinha terra não tinha nada; não era gente. A gente virou servo. Gente virou propriedade, era só parte do chão que eles possuíam. Até a inocência de nossas filhas era deles.

Depois eles vieram com uma tal de Indústria. Máquinas, vapor e trabalho. E a gente virou operário. Expulsaram a gente da terra; incharam as cidades; nos trancaram nas fábricas. Gente virou mão-de-obra. Uma mercadoria a mais nas prateleiras do mercado.

Agora eles chegam e nos surpreendem outra vez. Estão abolindo a propriedade privada das coisas materiais. A gente não tem mais telefone; não tem mais computador; não tem mais carro. Eles estão privatizando o "uso". Gente virou consumidor. Para viver só é preciso pagar uma taxa mensal. A assinatura da tevê; o leasing do carro; a mensalidade do telefone; o plano de saúde; o seguro de vida.

Primeiro perdemos a terra para eles. Depois o nosso trabalho. Agora, estamos perdendo nossa existência. Um dia, farão comodato de nossa alma.


(Este texto foi publicado originalmente, com algumas diferenças, em 2002, na coluna Deu na Lata do site www.sanatoriodaimprensa.com.br, sob o pseudônimo de Solinovsky).

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Gato


Ela disse pra ele naquela noite:

- Não fique assim... Você vai encontrar alguém... 
Acredite em mim: você é um gatinho...

- Sim. Um gato feio...


(Publicado originalmente em 18.11.2003, em konohito.blogger.com.br)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Quatro meninas


Tem quatro meninas
no meu coração,
mas duas são comprometidas
e duas são novas demais.

As quatro são muito bonitas,
mas duas são mais kawaii.
Duas me deixam louco,
as quatro me deixam em paz.

Duas se fazem de bobas,
duas me fazem sonhar.
As quatro me fazem de bobo:
as quatro fingem me amar.

(Publicado originalmente em 11.09.2003, em konohito.blogger.com.br)